Quem não tem vontade de conhecer a Índia? Ou pelo menos possui o mínimo de curiosidade sobre seus deuses e mitos?
O Ministério da Cultura e Banco do Brasil oferecem até o dia 29 de abril, no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB), uma oportunidade para os interessados em conhecer um pouco da história da Índia e sua cultura.
Alice visitou a exposição e divide um pouco dessa experiência!
Ganesha, deus da sabedoria, portador da sorte e removedor de obstáculos
Logo quando chego ao CCBB, vejo a estátua de Ganesha, um dos deuses cultuado tanto por hinduístas, quanto por budistas e jainistas. Diz a história que Ganesha foi gerado por Parvati ao sentir-se solitária com a ausência de Shiva, que havia se ausentado para meditar. Com a missão de guardar a entrada da casa, Ganesha impede a entrada de Shiva. O deus sem saber sobre a origem do filho fica com raiva e corta-lhe a cabeça. Para consolar Parvati, que estava muito triste com a tragédia, traz o filho a vida e substitui a cabeça cortada pela da primeira criatura viva que encontrou. Um elefante!
Essa é só uma das histórias interessantes que conheço no Centro Cultural.
Senta que lá vem história!
Primeiramente um pouco de contexto histórico sobre a Índia. Uma das mais antigas civilizações do planeta, é um lugar que reuni religiões, costumes e grupos étnicos que se estabeleceram na região há mais de 8 mil anos.
A exposição reúne fotografias, peças e vídeos sobre o cotidiano, cinema, religião, literatura e música do país que possui atualmente 1,2 bilhão de pessoas e 23 idiomas oficiais, dá para imaginar? 23 idiomas!
São obras vindas do Museu de Arte Asiática de Berlim, colecionadores, entre outros.
Entre 1500 e 1000 a.C. o subcontinente foi ocupado pelos arianos vindos da Ásia Central que introduziram a religião védica com sua crença de destruição e recriação do Universo e de todas as criaturas vivas. No período entre 1528 a 1858, o país viveu a dinastia Mughal, o mais longo e poderoso império islâmico. Depois vieram as colonizações pelos portugueses e pelos britânicos, em 1858, até se tornarem livres em 1947, após pressões constantes do povo liderado pelo Mahatma Gandhi.
Os fracos nunca podem perdoar. O perdão é atributo dos fortes (Gandhi)
Inclusive é possível apreciar um busto gigante de Gandhi e trechos da trajetória de vida de um dos maiores líderes que o mundo teve conhecimento, um homem que por meio da paz liderou uma legião de pessoas e trouxe a independência para o seu país. Gandhi nasceu em 1869, estudou direito em Londres, defendeu cinco pontos: igualdade, nenhum uso de álcool ou droga, unidade hindu-muçulmano, amizade e igualdade para as mulheres. Esses pontos são representados pelos dedos da mão, conectados ao pulso, que simboliza a não-violência.
Gandhi desenvolveu e propagou a filosofia que ficou conhecida como a força da verdade, Satyagraha, no qual defendia o princípio da não-agressão, uma forma não-violenta de protesto e que foi usada por grandes líderes como Martin Luther King e Nelson Mandela na luta pelos direitos humanos.
O grande revolucionário pacifista morreu em 1948, assassinado por um hindu radical que responsabilizava Gandhi pelo enfraquecimento do novo governo.
Música, cultura e deuses
A Índia por ser um país no qual a maioria da população é iletrada tem grande parte da sua história contada por meio de teatro de fantoches, pinturas, danças e da música.
Na crença hinduísta existem três principais deuses: Brahma, criador do universo. Vishnu, o poder da existência, a preservação e o equilíbrio do universo e Shiva, a destruição, transformação para o novo renascimento. Desta forma, para o hinduísmo, o tempo sempre recomeça em um movimento circular: Brahma cria, Vishnu preserva, Shiva destrói e Brahma cria de novo, o que difere do nosso tempo, no qual seguimos a trajetória do passado, presente e futuro.
Falando ainda sobre a crença hinduísta, o deus Vishnu possui dez avatares.* Diz a crença que esses avatares foram à Terra em momento de grande perigo para restaurar a harmonia. São:
Matsya – o Peixe
Kurma – a Tartaruga
Varaha- o Javali
Narasimha – o Homem-leão
Vamana- o Anão
Parashurama – o Homem com o machado
Rama – o Arqueiro
Krishna – deu origem ao movimento Hare Krishna
Buda – o Iluminado (Siddhartha Gautama)
Kalki – o Espadachim montado a cavalo. (Segundo os hindus, este avatar ainda está por vir).
* a palavra avatar, em sânscrito, avatãra, significa “descida”.
Parvati é uma deusa hindu, esposa de Shiva e a encarnação da energia total do universo. É considerada uma deusa benigna, a suprema Mãe Divina, e todas as outras deusas são referidas como encarnações ou manifestações dela.
Cada deus é transportado por um animal. O veículo de Shiva é um touro branco, denominado Nandi, significa “aquele que dá alegria”, sua imagem é encontrada em templos dedicados ao deus. Ganesha é transportado por um rato.
Boneco feito de couro de cabra usado para contar histórias
Na exposição é possível conferir alguns bonecos utilizados para contar as histórias sobre os deuses. Alguns são marionetes, outros feitos de couro de cabra, bem esticados, pintados com cores vivas e com furinhos para que a luz transpasse criando um efeito de luz e sombra. Nas apresentações os bonecos ficam atrás de uma tela de algodão e são iluminados. Há um vídeo que mostra como esses bonecos são manipulados.
Você também tem a oportunidade de conhecer alguns instrumentos típicos da Índia.
Instrumento que representa o masculino e o feminino
Tabla é um instrumento de percussão que se toca com dois tambores: um menor, feito de madeira, para tocar com a mão direita e que representa o princípio feminino, e outro mais largo de metal, para ser tocado com a outra mão e representa o masculino.
Sarangi tem duas cordas tocadas por um arco, especialistas atribuem a ele a origem do violino.
Sitar foi usado por George Harrison, dos Beatles, a primeira banda a introduzir sonoridade indiana no ocidente
Sitar é um instrumento de corda usado principalmente na música clássica hindu.
Veena é parecido com o sitar, também um instrumento de corda, é relacionado a deusa da sabedoria (Sarasvati) e conhecido como a mãe ou rainha de todos os instrumentos indianos.
Pungi, um instrumento de sopro muito conhecido usado por encantadores de serpentes, que passam urina de rato e ao soprar, atiçam as cobras pelo odor, o que dá a impressão de que elas estão hipnotizadas pelo som.
O mantra, poema ou som religioso, em sânscrito, significa Man “mente” e tra “alavanca”, é usado como orações repetidas. Por meio dele, você pode facilitar a meditação, energizar, despertar ou adormecer e desenvolver chakras. É importante que a pessoa saiba o significado do mantra para entoá-lo e deter o poder específico desejado.
Varnas
As castas ou varnas, como é dividida a sociedade na Índia, teria se originado de uma parte do corpo do deus Brahma:
Boca: os sacerdotes, filósofos e músicos clássicos, são os Brâmanes.
Braço: os guerreiros e os antigos príncipes. Funções de natureza política e militar. São os Kshatriyas.
Coxas: a população em geral, como os comerciantes. São os Vaishyas.Pés: os servos. São os Sudras.
Ainda existem os intocáveis, aqueles que realizam trabalhos considerados desprezíveis, como a limpeza de esgotos e lixo. São os párias, ou também conhecidos como dalit.
Apesar do sistema ter sido abolido em 1950, ele ainda permanece vivo na cultura indiana e hoje é possível que qualquer pessoa possa alcançar lugares de destaque na sociedade, mas ainda existe o preconceito por parte da população.
O Budismo
A religião budista surgiu na crença hindu.
Conta a história que Siddhartha, avatar de Vishnu, nasceu no Himalaia e era herdeiro do rei da casta dos Kshatriya. O príncipe viveu a infância e a juventude longe da realidade social. Um dia quando resolveu sair do palácio e conhecer o mundo, encontrou três situações até então desconhecidas por ele: velhice, doença e morte. Impressionado, decide, aos 29 anos, abrir mão de todo o seu reino e bens para sair pelo mundo em busca de conhecimento que o libertasse do sofrimento e o conduzisse à serenidade. Após anos de meditação e jejum, ele compreende que o caminho para a iluminação está no equilíbrio entre o sacrifício e o conforto.
Conhecido como Buda, o iluminado, seus ensinamentos mostram que todas as pessoas podem alcançar o estado de iluminação plena, o Nirvana, mas para isso precisam esforçar-se para redimir-se de toda forma de ignorância.
Uma mostra rica da cultura indiana, de encher os olhos com belas fotografias, imagens e histórias de um país encantador que, mesmo passando por diversas transformações, se tornou uma das maiores economias do planeta, exportador de tecnologia, e segundo maior mercado na indústria cinematográfica, não perdeu as tradições e rituais milenares que atraem tanto a atenção de estudiosos e especialistas
Amar Bharti levantou o braço pela paz
Uma dica que deixo é assistir o vídeo exibido durante a exposição sobre a vida de fanáticos religiosos, alguns xamãs e seguidores de deuses hindus, como Bharti Amar, que decidiu, há 38 anos, como forma de devoção e reverência ao deus Shiva, permanecer com o braço esquerdo erguido pelo resto da vida. Por conta desse ato devocional, seu braço se tornou inútil.
Vale a pena conferir e adquiri um pouco mais de conhecimentos sobre o esse mundo!