Arquivo do mês: outubro 2013

Rio de Janeiro, você foi feito para mim!

Rio de Janeiro

Ao contrário do poema de Manuel Bandeira, Terasa, no qual o personagem só se apaixona na terceira vez que a encontra, bastou ver o Rio de Janeiro uma única vez para o céu e a terra se misturarem. Parecia que Deus queria me mostrar a beleza daquela cidade que por muito tempo eu mantive certa repulsa, parte da culpa, eu acredito que venha desse sensacionalismo em relação à violência da cidade.

Não estou aqui para criticar, apenas declarar o meu amor ao berço de Vinicius de Moraes e Tom Jobim.

Quando resolvi conhecer o Rio, cheguei ao aeroporto Santos Dumont, mas antes que o avião pousasse o piloto arremeteu, ao invés de ficar assustada, como algumas pessoas ficariam nesta situação, o fim daquele voo foi interrompido como se Deus dissesse: veja minha filha que lugar lindo! Vi o Cristo, o Pão de Açúcar, e os meus olhos brilharam como os da menina ruiva ao ver o basset de Clarice Lispector.

Logo conheci o lugar pelo qual me apaixonei: o Jardim Botânico. A paz que eu encontrei foi indescritível, muitas vezes me perguntava se as outras pessoas que já passaram por ali, também sentiam como eu aquela majestosa natureza.

Chafariz das Musas

Localizado na parte central, as quatro figuras representam a música, a poesia, a ciência e a arte.

Réveillon em Copacabana

Decidi voltar ao Rio nas duas datas das mais importantes do nosso calendário brasileiro: ano-novo e Carnaval. Que loucura o ano-novo em Copacabana. Enquanto várias pessoas me avisavam sobre o perrengue que é passar o réveillon naquele local, eu como toda turista ou simplesmente apaixonada pelo Rio, como prefiro a definição, não resisti.

Isso foi a minha primeira mágoa com a cidade, digo mágoa, pois decepção é uma palavra muito forte para o meu sentimento em relação ao Rio. Quanta gente! Milhões e milhões de pessoas, filas enormes para os poucos banheiros químicos do local, o som, mal se ouvia a 10 metros de distância, e que luta para chegar até areia e ver a tão esperada queima de fogos.

Passado o sufoco, agora sim, como foi emocionante àquela queima de fogos, parecia que eu estava em uma terra encantada, outro mundo. Um mundo fantástico e surreal de arrancar lágrimas dos desavisados que se entregam ao momento no qual milhares de pessoas, unidas em pensamentos, desejam paz, amor, felicidade e todos os sentimentos mais positivos do planeta.

Mas a minha frustração continuava, pois a chuva não parava de cair, por um lado, lavava a alma do povo que esperava pela oportunidade de um novo começo, inclusive eu. Por outro, existia a angústia de estar encharcada, cansada, já que optei em chegar cedo e naquela altura do campeonato estava há sete horas andando de lá para cá. A questão era como ir embora? Não havia ônibus, os táxis não paravam, e existia o desespero de chegar em casa, mas como? Além disso, a vontade de fazer xixi consumia a minha resistência psicológica.

Dentre os anjos que Deus colocou na minha vida, naquela noite encontrei um carioca um pouco bêbado (sim, os anjos estão disfarçados, acredite!), com a orientação dele, andamos de Copacabana a Botafogo, mais ou menos uma hora de caminhada, até conseguirmos um transporte público, pois os táxis não paravam e quando paravam, cobravam um valor exorbitante.

Consegui chegar à Barra, mas só depois de fazer xixi na rua, diga-se de passagem lamentável eu sei, aguentar um xaveco muito ruim, mas engraçado do meu novo amigo e pegar carona na caçamba de um motorista solidário que trazia um grupo de perdidos até suas casas.

Carnaval

Carnaval

Celebração no Parque do Flamengo

Outra data que fiz questão de passar no Rio foi o carnaval. Ah o Carnaval, que maravilha, agora com muito sol, blocos tradicionalíssimos pela minha cidade, sim, já a adotei.

Um dos blocos que mais gostei, adivinha, passou no Jardim Botânico, tudo lindo, com direito as clássicas marchinhas. Como é bonito o Carnaval no Rio, música, dança, tradição, indivíduos de todas as raças, credos e religiões.

Entre tantas pessoas que nasceram para fazer parte de um lugar, estava eu ali, com o desejo de me tornar parte daquela cidade. Dancei, me fantasiei, beijei e aproveitei aquele momento de exaltação da alegria.

O Rio de Janeiro mistura a natureza há uma arquitetura antiga, bairros tradicionais e muita cultura. Fui embora do Rio sem deixar de conhecer Santa Teresa e a Lapa, que boêmia! Muitos turistas, a maioria estrangeiros, buscando a essência do Rio.

Preciso deixar também o meu relato de que conheci o Rio “a La elite”. Copacabana, Barra da Tijuca, Leblon, Ipanema e Lagoa Rodrigo de Freitas, mas não posso descrever como são as favelas, o morro, onde vivem milhares de pessoas que precisam lutar para sobreviver neste mundo.

Não posso dizer como é a rotina de quem acorda cedo, pega trânsito para chegar ao trabalho, à escola, ao compromisso. Tenho apenas a visão de uma pessoa que estava ali para se divertir, em um momento egoísta de satisfação própria, alheia aos problemas sociais e ao caos de uma cidade grande.

Talvez eu volte e conheça o outro lado, no qual acredito não mudará o sentimento que tenho por esta cidade maravilhosa, que como dizia Caetano, é cheia de encantos mil e conquistou o meu coração.


Coz one day everything’s gonna get over…

I know each second that I lived in Australia, which was days of sadness or happiness, worth it. I believe that I’m young to say it was the best time in my life, but I can say that I will always remember it, for sure. It was paradise on the earth.

One friend of mine said this time was like “fake life”, because we were living totally different of us routine in us home country. Maybe she was right, but was not it the thing which we were looking for?!

I have developed my knowledge, learning with life. In this journey, I met people who were my brothers, my sisters, my parents, my friends in hard and pleasant days. I learned a lot with each one of you guys. Does not matter if I spent months and months with you or few moments of laughs and good conversation. You are in my heart and my steps never will be the same.

I think we are supporting in your life, living and learning every day from us mistakes and successes. We never know when will be the last scene in this spectacle. We think that we can decide about everything, but we are wrong. Just a second for everything change and we don’t have power about it. We must take life the way it comes at we and make the best of it. Never give up. We just have this life to be happy and the moment is now.

I’m in the mix of inexplicable feelings. Sometimes I want smile and cry, I want stay and come back, but I know that cross the Pacific Ocean is not means just spend more than 16 hours inside the airplane, but cross the line between a life of dreams of the real life. I could avoid the reality, escape and keep in my “fake life”, but is time to face it, try to change and make it better. So let’s do it.

Photo from Brisbane, state of Queensland, Australia.


A maior perda

No dia 31 de dezembro de 2009, dez e meia da noite, Dona Edna Maria Cabral Peixoto, de 49 anos, ex-professora e sacristã da igreja matriz São Luiz de Tolosa, sobe na torre para tocar o sino e cumprir a tradição de anunciar o fim da missa e o ano que se aproximava. Chovia muito e nesse momento ela teve um leve pressentimento de que seria a última vez que ela faria aquilo. “Subi para tocar o sino, quando eu terminei de bater, a minha cabeça ficou cheia de pedacinhos do teto. Eu pensei, qualquer hora esse sino cai na cabeça da gente”.

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Igreja Matriz São Luiz de Tolosa, símbolo da cidade

Dona Edna vai para a casa e no caminho lembra de uma vez que escutou o pai e os tios comentarem que muito tempo atrás, por causa de uma forte chuva, a água chegou à escadaria da igreja. No dia seguinte, quando ela viu que a água já estava atingindo a praça, novamente começou a temer por uma desgraça. E pensou: “Meu Deus, se essa água chegar até a igreja, ela vai desmoronar”.

A igreja havia passado pela última reforma em 1930, e, segundo a sacristã, estava precisando de novas reformas. Dona Edna afirma que lá dentro era possível ouvir vários estalos na estrutura, principalmente quando ela entrava sozinha para soar o sino todos os dias antes das seis horas da manhã. Conforme os próprios sinais da edificação já profetizavam, a igreja não suportou a enchente.  Para as pessoas que tiveram toda uma vida atrelada ao templo, o que restou foram as lembranças.

 Ícone por gerações 

 A sacristã cresceu brincando dentro e fora da igreja. Das escadarias via a fanfarra passar. “Eu nasci em frente a igreja e cresci ali”, afirma. O destino de sua filha, a estudante de pedagogia Daniele Peixoto, de 23 anos, também não seria diferente. A jovem relatou ter vivido a infância e adolescência dentro da igreja: foi batizada, fez a primeira comunhão, crisma e a cerimônia do casamento.

As duas relembram seus casamentos realizados na Igreja matriz. A ex-professora conta que a igreja permaneceu a mesma todos esses anos e que na véspera do casamento, em 16 de outubro de 1982, ela mesma saiu para colher as flores para enfeitar o local. “Eu levei os copos de leite que colhi no campo para o altar, apesar de não precisar de muito luxo, porque a igreja em si era linda”. Ela lembra que o templo era conservado com muito zelo, as toalhas muito bem cuidadas e sempre a mesma pessoa se dedicava a conservar o bem mais precioso da cidade.

“Como ela era bonita, toda desenhada, cheia de anjos, santos…”

O casamento de Daniele foi o penúltimo a ser realizado na Igreja matriz. A jovem quase perdeu a oportunidade de concretizar o sonho de se casar no mesmo lugar que a mãe, porque a cerimônia estava prevista para 2010. “Era para eu ter casado este ano, mas eu comecei a me precipitar. Ainda bem que eu casei logo, do contrário não teria o meu sonho realizado”.

A visão da igreja desmoronando e o sentimento de ver o que restou é o que mais incomoda Daniele e sua mãe. Foi a pior sensação da vida delas. “Eu não sabia o que fazer, se chorava, se gritava, foi um sentimento horrível, uma dor imensa”, diz a filha. Alguns pertences da cerimônia ainda estão guardados perto dos escombros, e para Dona Edna ir até o local é muito triste. “Eu não gosto nem de olhar para lá, porque dá muita tristeza na gente”.

Esperanças

Depois da tragédia, as cerimônias passaram a se realizadas no centro da pastoral, local que Dona Edna considera como uma igreja. “O respeito que eu tinha com a Igreja matriz, eu tenho lá, eu faço as minhas orações, temos um cômodo que é a capela do santíssimo, para mim a igreja está lá”.

Sobre a reconstrução da igreja, Daniele acredita que o templo não ficará igual ao que era, o que a deixa triste, pois ela gostaria que suas duas filhas casassem na Matriz, e que o cenário fosse o mesmo. Já para Dona Edna, as mudanças virão para melhor. Segundo a devota, além de manter os altares como os originais, o novo projeto incluirá dois banheiros e duas sacristias, melhorando a infraestrutura do templo. “Todos os altares estão lá, cada altar no seu lugar, eles (os responsáveis pela reconstrução da igreja) podiam ter demolido, mas não, eles limparam tijolo por tijolo, lavaram o piso, ficou limpinho, se não ficar igual, pelo menos vão tentar deixar o mais parecido possível”.

Entre a tristeza e a esperança de ter a Igreja São Luiz de Tolosa em pé novamente, Dona Edna mantém sua fé. “Eu busco o meu conforto acreditando que Deus deixou que a água levasse (igreja), porque se acontecesse de a igreja desmoronar em cima do povo na hora da missa, seria pior. O meu consolo é que não tinha ninguém dentro, não morreu ninguém”.

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Os escombros da igreja Matriz depois da enchente.