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Guerra e Paz

Faz uma semana que passei em frente ao Memorial da América Latina e vi uma fila imensa para ver a exposição Guerra e Paz de Candido Portinari. Por maior que fosse o tamanho da fila, ainda seria pequena em comparação a grandeza da obra que estava exposta no local.

Confesso que de início não esperava muito, apesar da repercussão que a mídia fez sobre o evento, mas ao entrar naquela sala fiquei vislumbrada. Simplesmente magnífico. Os detalhes, a grandeza, o trabalho, as características, o resultado e a consequência depois de tanta dedicação àqueles painéis. Tudo tão esplendoroso.

“As coisas comoventes ferem de morte o artista e sua única salvação é retransmitir a mensagem que recebe. Eu pergunto quais as coisas comoventes neste mundo de hoje? Não são por acaso as tragédias provocadas pelas guerras, as tragédias provocadas elas injustiças, pela desigualdade e pela fome? Haverá na natureza qualquer coisa que grite mais alto ao coração do que isso?…” trecho do discurso de Portinati a intelectuais e artistas em Buenos Aires, em 1947.

A Criação

Os dois maiores painéis foram pintados por Portinari entre 1952 e 1956 a pedido do governo brasileiro para presentear a ONU. A obra fica em local restrito, por isso o desejo de que elas fossem expostas aqui no Brasil.

Foram mais de 100 estudos preparatórios para a produção do Guerra e Paz que revelam a preocupação do autor com os detalhes característicos de cada obra.

Paz

Guerra

 

No painel Guerra é possível observar a predominância de tons escuros, principalmente da cor azul que, passando por toda a sua escala de tonalidades, retrata a tristeza, a dor, o sofrimento, a morte, ora na dor da mãe que perde o filho, ora nos cavaleiros apocalípticos.

A Paz vem retratada na leveza dos tons pastéis, particularizada pelo dourado, o pintor mostrar a alegria, a vida, a harmonia, a paz na ciranda, no canto e nas brincadeiras das crianças, no trabalho produtivo.

Os painéis foram restaurados entre fevereiro e maio de 2011, no Palácio Gustavo Capanema, Rio de Janeiro. Possui 14 metros de altura por 10 metros de largura cada um. São compostos por 28 placas de madeira com 2,2 metros de altura por 5 metros de largura.

O Criador

Candido Portinari nasceu no dia 30 de dezembro de 1903, na cidade de Brodowski, no estado de São Paulo. Com 15 anos mudou-se para o Rio de Janeiro.

Não apostou na educação escolar, mas conseguiu se tornar um dos mais famosos pintores das Américas graças ao seu talento. Dizem que começou o seu trabalho seguindo o conselho de Tolstoi, “se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia…”.

Mesmo avisado pelos médicos sobre o risco a saúde que o trabalho traria, o pintor não recuou e completou o maior desafio da sua vida, pintar Guerra e Paz. Portinari faleceu em 6 de fevereiro de 1962 intoxicado por sua matéria prima.

Quando eu visitei a exposição não havia muitas pessoas na fila, mas tenho certeza que para os que esperaram embaixo do sol ou no frio, horas e horas, saíram com a certeza que o esforço valeu a pena. Para aqueles que não viram, fica a esperança de um dia terem esse privilégio.

A Guerra e a Paz de Portinari

“A guerra é uma cavalgada
cruzando o azul da paisagem
cortejo de fome e de morte
ferindo o coração dos homens.
A mulher velando o filho morto
a mulher e a criança chorando
a mãe e a filha em desespero
de cabeças rolando na grama.
A guerra são os quatro cavalos
regendo a sinfonia de dores
são os braços erguidos em prece
pedindo o final dos horrores.
A paz é um coro de meninos
é a voz eterna da infância
as mulheres dançando na roça
os meninos pulando carniça.
É a noiva de branco sorrindo
na garupa de um cavalo branco
a mulher carrega um carneiro
crianças no espaço balançam.
A paz está nos meninos
que brincam nos campos da infância
nos homens, nas mulheres cantando
a harmonia, a esperança.”

Fernando Brant